Apesar de já ter ouvido bastantes vezes que somos nós que limitamos os nossos pensamentos, acções e por consequência os nossos resultados, ainda não o tinha sentido como uma realidade. Foi na Tailândia, quando subi ao Tiger Temple em Krabi, que descobri e senti que o limite somos nós que o impomos.
A aventura começa
Tudo começou quando me inscrevi numa excursão que incluía vários pontos de interesse, sendo que um deles era o Tiger Temple. Já tinha visitado bastantes templos na Tailândia, mas no Sul ainda não tinha visto nenhum e, uma vez que estava no programa, não quis perder a oportunidade de ver mais um templo.
Quando a carrinha da excursão chegou ao local do Tiger Temple, fomos até à entrada do recinto onde havia muita gente e o guia perguntou-me se eu ia subir ao templo. Achei a pergunta estranha e disse “Claro que sim!”. Porque não havia de o fazer? Ele disse-me a hora a que devia voltar e apesar de me parecer bastante tempo para visitar um templo, ele disse-me que tinha que me despachar pois ainda ia demorar tempo para subir.
Já tinha visitado alguns templos no norte que me levaram mais de uma hora para visitar, e o que pensei foi que o templo deveria ser grande e por isso precisaria de mais tempo para o explorar.
Dirigi-me para a entrada e vi a escadaria que desaparecia no meio da vegetação. A única coisa que me ia impedindo de começar a subir foi um macaco que andava atrás das pessoas em busca de comida. Apesar de não levar muita comida (apenas os snacks habituais para uma emergência), tinha uma pequena mochila e temi que ele implicasse com ela, uma vez que o vi agarrado aos bolsos dos calções de um turista que ia mesmo à minha frente. Apesar de algum medo de ser mordida ou roubada lá passei a parte das escadas com os macacos e pus-me a caminho, enquanto eles subiam pelas árvores.
A subida
Subi, subi, subi e as escadas nunca mais acabavam. Comecei a sentir-me cansada e as pessoas que vinham a descer diziam-me que ainda faltava um bocado para o fim.
Não se via o fim, pois as escadas tinham muita vegetação à volta e portanto eu não fazia ideia do que estava pela frente. Continuei a subir com alguma dificuldade, pois os degraus eram irregulares (uns muito pequenos e outros com cerca de meio metro de altura), eu estava de chinelos (acreditem que não é nada confortável) e estava muito calor. Felizmente tinha muita água (não saía para lado nenhum sem ela), repelente de mosquitos e o caminho era à sombra.
Havia muitos estrangeiros ao longo daquelas escadas: os que subiam com ar cansado e os que desciam com ar de satisfeitos. Quando já estava bastante cansada, parei um pouco para beber água e falei com um senhor que descansava como eu. Perguntei-lhe se ele fazia ideia se ainda faltava muito e ele apontou-me para uma pedra que tinha um número. Não me lembro do número mas sei que era perto de 500. Era a indicação da quantidade de degraus que tinha subido até ali. Então perguntei quantos faltavam e foi quando ele me disse que para ir ao Tiger Temple tem que se subir 1260 degraus. “What? 1260 degraus!!!!!!!”.
O grande desafio
Quando ouvi aquele número (1260) apeteceu-me voltar para trás. Depois pensei: “Espera lá que já vais quase a meio. Se os outros conseguem, tu também consegues!”.
Continuei a subir mas confesso que o percurso ia-se tornando cada vez mais difícil. Estava fisicamente cansada, com muito calor e o meu cérebro continuava a dizer-me coisas como “Não consigo”, “Não vale a pena, é só mais um templo”, “Vou desistir”.
Agora que penso no assunto, acho que não vi ninguém a desistir pelo caminho. Via que as pessoas estavam muito cansadas, mas não desistiam. Provavelmente já sabiam qual era o desafio quando começaram a subir e agora começava a entender a pergunta do guia “Vai subir ao templo?”, pois deve haver muitas pessoas que não conseguem ou não querem subir esta quantidade de degraus. É sem dúvida um grande desafio!
As pessoas
À medida que ia subindo, as pessoas que iam descendo olhavam para mim (e para todos os que subiam) com um sorriso. Era um sorriso de empatia, quase que a dizer “Falta pouco. Tu consegues!”.
A dada altura ia uma miúda à minha frente (não me lembro se holandesa se alemã) com as pernas todas picadas pelos mosquitos. Quando nos sentámos para descansar perguntei-lhe se ela tinha posto repelente e ela confessou o seu esquecimento. Emprestei-lhe o meu e ela ficou muito grata. Estava em melhor forma que eu e rapidamente a perdi de vista.
Também me lembro de ter encontrado um senhor dos seus 50 anos que me disse que já era a segunda vez que subia ao Tiger Temple. Perguntei-lhe porquê, ele riu-se e disse que era para fazer exercício.
De vez em quando parava para descansar e ver quantos degraus faltavam (faltavam sempre muitos). Ia falando com as pessoas que encontrava e íamos motivando-nos mutuamente. Apesar de estar a fazer o caminho por minha conta, nunca me senti sozinha e senti sempre o apoio das pessoas que passavam por mim. Talvez também por isso que não desisti, e talvez por isso que não via ninguém a voltar para trás sem ter chegado ao topo.
Como consegui?
Quando cheguei perto no milésimo degrau, já estava completamente estafada. O apoio das pessoas que ia encontrando foi importante, mas tive que mudar a minha forma de pensar para poder chegar ao topo.
“Passito a passito” como a música. Estava tão cansada que cada degrau em si era um desafio. Os últimos 200 degraus foram mesmo feitos quase um a um. Só pensava: “Vá tu consegues. É só mais um passo”.
E as pessoas continuavam a descer e a dizer “Falta pouco” e “Vale a pena subir”. E eu lá ia subindo com muito esforço e a um passo de cada vez.
A chegada ao topo
Quando cheguei ao topo, só tive forças para tirar uma foto ao pé do sítio que dizia “1260” e fui descansar à sombra durante uns minutos. Posso dizer que a minha T-shirt estava completamente encharcada e eu vermelha como um tomate.
O templo não era nada de especial, mas a vista era arrebatadora. Fiquei de tal forma impressionada que decidi fazer um vídeo pois queria partilhar toda aquela beleza (que não se consegue ver no vídeo).
Valeu bem a pena, mas nesta altura ainda não tinha percebido o impacto que esta experiência ia ter na minha vida. Passei algum tempo a contemplar a paisagem e comecei a descer.
A descida
A descida foi mágica. De repente o cansaço desapareceu e era eu que motivava as pessoas que subiam. Era eu que sorria para elas e lhes dizia que faltava pouco e que ia valer a pena.
Via as pessoas a dar os últimos passos e sabia que iam conseguir, como eu consegui. Às vezes parava para falar com alguém mais cansado e ficava feliz por ajudar de alguma forma.
Quando cheguei ao fim já não vi macacos. Olhei para cima e vi o que tinha feito. Subi o que me pareceu ser uma montanha de pedra gigante.
A verdadeira aprendizagem
Apesar do desafio e do esforço para subir até ao Tiger Temple, não me apercebi do que tinha aprendido até estar numa outra ilha. Quando visitei Ko Pha Ngan, fiz uma excursão ao Angthong National Marine Park, e na ilha de Koh Wua Talap surgiu mais um desafio: um miradouro situado a 500 metros acima da linha do mar. Um cartaz explicava todo o percurso que era dividido em etapas de 100 metros com miradouros ao longo do caminho.
Posso dizer que mais uma vez subestimei o percurso, e comecei a subir. Quando cheguei ao segundo miradouro nos 200 metros fui brindada com uma vista espectacular. Havia muita gente a tirar fotos e aproveitei para descansar.
Desta vez apercebi-me que a maior parte das pessoas desistia neste ponto. O que ouvia eram frases do género: “Já valeu a pena esta vista e portanto não vou continuar”.
Não tenho noção se este percurso era mais fácil ou difícil que o do Tiger Temple, pois estas escadas não tinham o número de degraus e portanto não consegui comparar. Uma coisa é certa: pensei em desistir várias vezes e o meu pensamento foi sempre “Já fiz isto uma vez, por isso vou conseguir mais uma vez”. Tornou tudo mais fácil.
Quando cheguei ao quarto miradouro deparei-me com mais uma vista espectacular. Conheci um casal de espanhóis e ouvi o espanhol dizer que já não ia subir mais. Meti-me com ele e desafiei-o a subir mais uns degraus até ao fim. Quando ele chegou ao topo veio-me agradecer o incentivo e eu fiquei contente por o ter ajudado a superar o desafio.
A vista era ainda melhor e o sentimento de mais um limite superado foi maior do que eu pensei. Foi aqui que finalmente percebi que os limites somos nós que os impomos. Se dissermos que não conseguimos, então não conseguimos. Se nos esforçarmos e mudarmos a nossa forma de pensar, então conseguimos aquilo que quisermos.
O que aprendi:
- podemos descansar, mas para isso não precisamos desistir. Devemos continuar o nosso caminho.
- pelo caminho há sempre pessoas que nos podem ajudar. É preciso estar atento às oportunidades que nos aparecem no nosso percurso.
- a forma de pensar ajuda-nos ou impede-nos de chegar onde queremos. Se pensarmos que não conseguimos, então não vamos conseguir. Se pensarmos que apenas precisamos de dar o próximo passo e avançarmos, ficamos mais próximos de alcançar o nosso destino.
- o limite somos nós que o impomos. Não há limites!
E tu? Já passaste por algum desafio semelhante? O que aprendeste com ele? Partilha as tuas experiências para que mais pessoas se sintam inspiradas em dar o primeiro passo.