Como Ultrapassei O Meu Medo De Fazer Mergulho

Como ultrapassei o medo de fazer mergulho

De todos os desafios que encontrei na minha viagem à Tailândia, este foi sem dúvida um dos que mais me marcou. Fazer mergulho não estava nos meus planos, pois a minha relação com a água e com o mar foi sempre muito frágil. Dito isto, quero partilhar aqui a minha experiência e como ultrapassei os meus medos.

A minha relação com a água

Desde sempre a minha relação com a água nunca foi muito boa. Ao longo do tempo teve altos e baixos e não sei se alguma vez vou deixar de sentir desconforto. Uma coisa é certa: sei que consigo ultrapassar estes medos e a prova disso é que já o fiz várias vezes.

Salpicos: o meu pesadelo número um

Nunca gostei e fico extremamente irritada se me salpicam. Não me perguntem porquê, pois sempre fui assim. Na piscina escolho sempre locais estratégicos para não apanhar salpicos de outras pessoas. Na praia, as ondas são um problema e, caso veja que não consigo passar a zona de rebentação sem levar com uma onda em cima, prefiro molhar só o pé.

Hoje em dia, estou um pouco mais tolerante aos salpicos ocasionais. Quanto às ondas do mar, tenho-lhes um respeito muito grande e continuo a ser bastante cuidadosa. Na Tailândia não tive problemas com as ondas, pois lá o mar é calminho.

Mergulhar

Em miúda fiz natação e dava mergulhos, mas nunca me senti muito confortável com isso. Assim que larguei a natação, voltei a fechar os olhos debaixo de água, a tapar o nariz e a mergulhar de pé numa piscina. A verdade é que se puder não mergulhar, para mim é o ideal.

Há uns anos atrás decidi voltar à natação. Antes de ir trabalhar, passava na piscina para nadar e como era ainda muito cedo normalmente tinha a piscina só para mim. Comecei a nadar controlando a respiração pelo nariz, mas nunca experimentei abrir os olhos e mergulhar nem pensar. Entretanto a piscina onde ia deixou de funcionar e eu aproveitei a desculpa para deixar a natação e voltei novamente à minha zona de conforto.

Medo de me afogar

Como se a minha relação com a água não fosse já complicada, tive um episódio em criança em que quase me afoguei numa piscina.

Estava a brincar com o meu irmão e com uma miúda que conhecemos na piscina, até que alguém teve a ideia de irmos para a zona sem pé. Eu e o meu irmão sabíamos nadar bem e estávamos fartos de ir para lá. No entanto, a nossa mais recente amizade não sabia nadar. “Não faz mal. Eu fico no degrau junto à borda da piscina”, disse ela. Correu tudo bem até nos lembrarmos de fazer uma roda e demos todos as mãos. Ela desequilibrou-se e, como não sabia nadar, trepou para cima de mim e pôs-se quase às minhas cavalitas. Escusado será dizer que eu fui ao fundo e que não conseguia vir à superfície para respirar. Não fosse o salva-vidas da piscina ter visto a cena e me ter socorrido, tinha lá ficado.

Olhando para trás, provavelmente não foi nada de muito grave, pois saí da água sem qualquer dano físico e não engoli muita água. Mas desde essa altura que não consigo nadar junto de outras pessoas. Assim que alguém se aproxima de mim na água, começo a panicar e basicamente esqueço-me de como se nada e começo a esbracejar muito rápido.

Portanto, ir à praia com um grupo de amigos faz-se com algumas precauções, nomeadamente sem salpicos e, quando na água, com alguma distância.

O que dizia antes de viajar para a Tailândia

Quando decidi viajar para a Tailândia, escolhi vários lugares que gostava de conhecer. Uma das ilhas que gostava de visitar era Ko Tao que é especialmente conhecida pela prática de snorkeling e mergulho. Pensei que o mergulho poderia ser um óptimo desafio e portanto fui pesquisar mais sobre o assunto. Decidi deixá-lo de lado pois podia colocar a minha vida em risco caso tivesse um ataque de pânico debaixo de água.

Devo dizer que também disse que não ia aprender a andar de scooter na Tailândia (e não o fiz), pois considerava perigoso. No caso do mergulho foi diferente pois para além de ter ultrapassado alguns medos ao longo da minha estadia, também fui acompanhada por profissionais.

Isto para dizer que quando pus os meus pés em Ko Tao, ia convencida de que não ia experimentar o mergulho. Tinha decidido não o fazer e para além disso tinha a certeza que nunca iria conseguir mergulhar.

A minha experiência com o Snorkeling

Ao longo da minha estadia no Sul da Tailândia, houve várias oportunidades de fazer snorkeling. Várias excursões incluíam esta actividade e apesar de me sentir desconfortável não deixei de o fazer.

Algumas experiências com o snorkeling foram bastante simples, pois tinha pé e nunca havia ondas. E quanto mais vezes fazia mais fácil ficava a respiração e fui-me adaptando.

A dificuldade maior era quando o snorkeling era feito a partir de um barco numa zona sem pé. É verdade que sei nadar, mas como ia com mais pessoas tinha sempre algum receio. No entanto, assim que descia a escada para a água (mergulhar nem pensar) afastava-me das pessoas e corria tudo bem.

O grande desafio veio quando fiz uma excursão em Ko Pha Ngan para o Ang Thong Marine Park. Eram cerca de 70 pessoas no barco e quando chegou a altura do snorkeling eu pensei mesmo em ficar à espera no barco. Para além de serem muitas pessoas na água e não haver forma de estar sempre a uma distância de segurança delas, havia muitas pessoas que não sabiam nadar e que iam para a água de colete salva-vidas.

Foi então que me lembrei que esta viagem era para ultrapassar desafios e comecei a pensar de que forma poderia conseguir fazer isto. Coloquei-me várias questões:

  1. O que é que é mais divertido: ficar no barco à espera que as pessoas voltem ou ir fazer snorkeling e ver peixinhos bonitos? Claro que a resposta foi “ver peixinhos bonitos”.
  2. De que forma posso garantir que não me vou afogar? Aqui pensei que poderia ir com o colete como todos os outros e coloquei-me na fila para descer as escadas para a água. No fim da fila estava um rapaz a distribuir coletes e foi então que me fiz outra pergunta.
  3. Qual é a pior coisa que me pode acontecer? Eventualmente a pior coisa seria afogar-me, mas era pouco provável uma vez que estava rodeada de tanta gente que me poderia salvar. Podia ver-me numa situação em que uma pessoa que não sabia nadar se apoiava em mim, mas as pessoas que não sabiam nadar estavam de colete e por isso também não via motivos para o fazerem. E por último, podia panicar e não conseguir nadar. E foi aqui que tomei a minha decisão, pois se não havia motivos para ter medo, também não havia motivo para pânicos. Achei que estava bastante calma e decidi ir sem colete para experimentar pois na pior das hipóteses teria que voltar para trás para o vir buscar.

E resultou! Entrei na água e fiz snorkeling calmamente. No início estava um pouco ansiosa e confesso que estava a prestar mais atenção às pessoas do que ao fundo do mar. No entanto, à medida que me fui habituando, fui ficando mais descontraída e consegui aproveitar a experiência. Enquanto via os peixinhos e os corais nem dava pelo tempo passar e quando me dei conta estava a nadar sem qualquer problema no meio de montes de gente.

A decisão de experimentar o mergulho

Depois de ter ultrapassado esta barreira de nadar perto de outras pessoas, dei comigo a marcar uma excursão em Ko Tao só para fazer snorkeling. Achei que estava preparada para o fazer e assim o fiz.

Foi maravilhoso! Ko Tao é uma ilha fabulosa e o fundo do mar é espectacular. É provavelmente um dos sítios mais lindos para fazer snorkeling. Tenho pena de não ter levado uma máquina fotográfica à prova de água, mas não me vou esquecer da beleza que vi e vivi.

A excursão fazia paragem em 5 pontos específicos para fazer snorkeling. Apesar de ter visto imensa vida marinha debaixo de água, gostava de ter visto os tubarões pequenos, as raias e as tartarugas que dizem ser habituais em alguns pontos, mas que neste dia não apareceram. Terei que voltar um dia para o fazer!

A verdade é que este dia, passado a fazer snorkeling juntamente com outras pessoas (inclusive um casal de portugueses que conheci no barco), mudou a minha forma de pensar. Tinha conseguido controlar o meu medo de nadar com outras pessoas e a nível de respiração estava a sair-me muito bem. Então porque não tentar o mergulho, uma vez que estava no local ideal para o fazer?

Nesse mesmo dia à noite dirigi-me a uma escola de mergulho para pedir informações. Disseram-me que podia fazer um mergulho experimental com um instrutor e que se gostasse poderia fazer um segundo mergulho. Fiz imensas perguntas acerca de como iria ser realizada a experiência e se era muito difícil. A senhora foi muito simpática e explicou-me que primeiro ia ter uma aula teórica e depois ia fazer alguns exercícios de respiração numa zona com pé. Caso não conseguisse fazer os exercícios não poderia fazer o mergulho por uma questão de segurança. Fiquei descansada e inscrevi-me no mergulho para o dia seguinte.

As minhas quase-desistências

E eis que chega o dia em que me meto num barco para experimentar o mergulho. Primeiro tive uma pequena aula onde o instrutor me explicou a mim e a uma israelita o básico do mergulho e depois seguimos para o local onde se iriam praticar os exercícios.

Primeira quase-desistência

Logo após termos saído no barco deram-me um fato de mergulho para vestir e explicaram-me como funcionava o equipamento. Foi aí que percebi que para chegar à zona com pé perto da praia, teria que nadar até lá já equipada. Até aqui tudo bem. Puseram-me a garrafa às costas, que para mim pesava toneladas, e o instrutor salta para a água de pé.

Nem queria acreditar. Saltar para a água? Ainda por cima com aquele peso todo! Disse que não era capaz e perguntei se não havia outra solução. O instrutor gritou da água: “Tens que confiar. Salta!”

A minha colega salta primeiro e eu fiquei ali parada sem saber o que fazer à minha vida. Aproximei-me da borda do barco e a partir daí tudo pareceu desenvolver-se em câmara lenta. O instrutor na água tentava convencer-me que ia correr tudo bem, a senhora do barco tinha-me dado a mão para eu me equilibrar com a garrafa de oxigénio e eu ali parada a pensar em desistir.

Até que decidi confiar no instrutor. Afinal de contas ele é um profissional e não iria deixar que nada de mal me acontecesse. Segui as instruções dele, coloquei uma mão no cinto que prendia o equipamento, com a outra mão segurei a máscara e o bocal, fechei os olhos e atirei-me. Não foi nada fácil, foi mesmo um salto de fé! Quando vim ao de cima, respirei fundo e pensei: “Consegui!”

Segunda quase-desistência

Começámos a nadar e o instrutor sugeriu que fossemos experimentando respirar pelo bocal para nos irmos habituando. Com a máscara e o bocal colocados, lá fui nadando à superfície tentando respirar pela boca. O controlo da respiração não foi muito fácil para mim, mas decorreu sem problemas.

No entanto, passado algum tempo de começar a respirar aquele oxigénio, começaram-me a doer os dentes. Tenho as gengivas muito sensíveis e já há algum tempo que não tolero bebidas frias e mesmo para lavar os dentes tem que ser com água tépida ou morna. Não estava à espera desta reacção e queixei-me ao instrutor. Ele disse-me que não havia nada que pudesse fazer: “Deal with it”.

Foi então que pensei que não ia conseguir fazer isto, mas estava a custar-me a ideia de desistir do mergulho por me doerem os dentes. Parecia-me ridículo!

Tentei acalmar-me e continuei a experimentar enquanto nadava. A verdade é que os dentes foram-se habituando ao frio e passado alguns minutos já não tinha dores nenhumas. Não passou de um falso alarme!

Terceira quase-desistência

Chegámos perto da praia e o instrutor começou a explicar os exercícios que tínhamos que praticar debaixo de água: tirar e pôr o bocal; trocar de bocal com o instrutor; e tirar a água de dentro da máscara. Acho que havia mais um ou dois exercícios mas só me lembro destes pois foram os mais complicados de executar.

Devo dizer que uma das minhas dificuldades foi que o instrutor fazia questão de estar muito perto de mim (para me poder auxiliar) e isso deixava-me desconfortável. No entanto, uma vez que já tinha nadado perto de pessoas anteriormente, foi mais fácil controlar-me e optei por confiar nele.

Começámos a praticar e em cada exercício eu engolia água pelo nariz. Foi horrível! E quando foi a vez de tirar a água de dentro da máscara, pensei mesmo que o mergulho não era para mim. Sentia o sal a arder nos olhos e nas fossas nasais e estava completamente desconfortável.

Uma das coisas que me ajudou foi a naturalidade com que o instrutor lidava com as minhas dificuldades. Sempre que eu tentava fazer um drama da coisa, ele dizia que não era fácil e que era normal eu sentir-me assim. Dizia que ia passar e que depois começava a parte divertida. Ele não se mostrava preocupado e dava-me a sensação que fazia tudo parte da experiência.

Continuei a tentar fazer os exercícios e consegui fazê-los todos. Só precisávamos de os executar bem uma vez para estarmos aptos para mergulhar e assim foi. Na volta para o barco, fomos debaixo de água. O fundo do mar ali não era espectacular pois só se via areia, no entanto a água era super transparente e ainda apareceram alguns peixes pelo caminho. Foi muito bom nadar junto ao chão e ouvir o silêncio como se o tempo tivesse parado.

Tive alguma dificuldade para subir as escadas para o barco devido ao peso da garrafa de oxigénio, mas depois disso senti-me satisfeita por ter conseguido chegar até ali.

Quarta quase-desistência

Tinha que decidir se fazia o segundo mergulho ou não. Sabia que não ia ser como o primeiro, pois ia mergulhar a uma maior profundidade e ia ver mais vida marinha. No entanto, continuava com medo que algo corresse mal. Pensei várias vezes que já tinha feito um mergulho e que não era preciso fazer um segundo, mas eu sabia que não passava de uma desculpa para justificar os meus receios.

Enquanto navegávamos para o ponto de mergulho, conversei bastante com o instrutor acerca dos meus medos. Perguntei-lhe se ele achava que eu estava preparada para o segundo mergulho e ele disse-me que já tinha mergulhado com pessoas muito piores do que eu. Isso confortou-me, mas não deixava de pensar que se fosse preciso fazer um daqueles exercícios de novo, eu não os sabia fazer. Afinal de contas só os tinha executado bem uma ou duas vezes e não sabia se era capaz de repeti-los numa situação real.

Estava a focar-me no problema e poderia ter ficado ali horas a pensar em todas as coisas que eu ainda tinha que aprender para saber mergulhar. Foi então que perguntei ao instrutor: “Qual é a pior coisa que me pode acontecer?”. Ele explicou-me que não iríamos mergulhar a muitos metros de profundidade e que se tivesse alguma dificuldade teria tempo de voltar à superfície e o máximo que me podia acontecer era engolir uns pirolitos. A única coisa que era fundamental era não prender a respiração. Ora bem, pirolitos já eu estava farta de engolir nos exercícios, portanto só precisava de me lembrar de respirar.

Não foi uma decisão fácil e voltei a questioná-la quando tive que saltar para a água uma segunda vez. Pensei que ia ser mais fácil, mas não foi. No entanto, se consegui da primeira vez, também ia conseguir uma segunda vez. Saltei e lá fui fazer o meu segundo mergulho.

Quinta quase-desistência

Quando cheguei ao sítio do mergulho, estava bastante confiante que ia correr tudo bem. Tinha alguma ansiedade, mas confiava no profissionalismo do instrutor. Afinal de contas, ele fazia isto todos os dias com pessoas que provavelmente tinham os mesmos receios que eu.

Neste mergulho, tive a sorte de ter o instrutor praticamente só para mim, pois o irmão da israelita juntou-se a nós e ele já sabia mergulhar pelo que dava apoio directo à irmã. Mergulhámos aos pares e foi então que começaram a doer-me os ouvidos.

À medida que íamos descendo de profundidade, a dor nos ouvidos crescia. Voltava para cima e tentava novamente. Consegui desbloquear um dos ouvidos, mas ainda tinha dores no esquerdo. Segui à risca os conselhos do instrutor e apertava o nariz tentando desbloquear os ouvidos com a respiração. Tentei várias vezes e ele disse-me que havia pessoas que não conseguiam por algum motivo e perguntou-me se queria tentar mais uma vez.

Eu disse que sim e ele pegou em mim e foi-me descendo devagar. Deixei de o ver, pois ele estava a nadar por cima de mim e foi-me levando. Como fomos descendo gradualmente, a dor foi passando. Cada vez que não me sentia bem, ele subia mais um pouco até me habituar e depois descia novamente. Ele foi muito paciente.

Depois de ter ultrapassado este obstáculo, tudo se transformou. Parecia magia! Não consigo descrever tudo o que vi, mas foi espectacular. Pareciam imagens tiradas do National Geographic. Estava dentro de um aquário vivo. Foi lindo e ainda bem que não desisti.

O que aprendi

Com esta experiência aprendi sobretudo a conhecer-me melhor e agora sei que sou capaz de superar as minhas dificuldades e os meus limites. Sei identificar os meus pensamentos negativos que me impedem de agir e com isso consigo criar soluções para os ultrapassar.

Percebi que, se quero aumentar a minha zona de conforto, terei que passar por situações desconfortáveis. No entanto, uma vez ultrapassadas, tudo se torna mais fácil.

Neste momento, estou a fazer planos para mergulhar de novo, desta vez em Portugal. Tenho consciência de que será mais um desafio, pois apesar de o ter feito na Tailândia, ainda não me sinto totalmente confortável. Sei que desta forma vou conseguir ultrapassar mais barreiras e com isso irei contribuir para o meu crescimento pessoal.

E tu? Que desafios ultrapassaste ultimamente? Já alguma vez fizeste mergulho? Tens alguma aventura que queiras partilhar? Partilha as tuas experiências e desafios para que possamos juntos inspirar mais pessoas a fazerem o mesmo.

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