Poucos sabem o que vou partilhar aqui e muitos irão ficar surpreendidos com as minhas palavras. A verdade é que, quando tenho que fazer algo sozinha, tenho uma dificuldade muito, mas mesmo muito grande para sair de casa e especialmente para falar/interagir com pessoas.
Há quem lhe chame vergonha, há quem lhe chame timidez ou medo. Eu não sei o que lhe chamar, mas a verdade é que a sinto e isso incomoda-me
A minha confissão
Quem me conhece vê-me como uma pessoa super extrovertida, e em parte é mesmo verdade. Mas quando estou sozinha, e especialmente se tenho que interagir com alguém que não conheço, o caso muda de figura. Pareço outra pessoa.
Desde pequenina que me debato com este problema e sempre pensei que era algo que só eu sentia. Há pouco tempo, quando comecei a partilhar estes sentimentos com outras pessoas, descobri que não sou a única.
Lembro-me quando era criança que o pior que me podiam fazer era pedir para eu fazer um recado. Por exemplo, podia estar num café e eu pedia um bolo que adorava à minha mãe. Ela dizia-me para ir pedir ao senhor do balcão. Ui, afinal já não queria o bolo. Fosse para mim ou para outra pessoa, fazer recados implicava falar com um estranho. Ficava logo muito nervosa, inventava desculpas e muitas vezes fazia uma birra.
Depois fui para a faculdade e melhorou um pouco, mas a verdade é que a maior parte das coisas que fazia era sempre em grupo e por isso acho que acabava sempre por me escapar.
A grande mudança deu-se quando fui morar para o Algarve. Nessa altura tornei-me um pouco mais independente e fui obrigada a ultrapassar algumas situações. Lembro-me que uma das coisas que mais me custava era ir ao supermercado sozinha. Não sei explicar bem o que sentia, pois era tudo irracional e eu sabia-o. Mas a verdade é que ficava muito nervosa por sair de casa sozinha. Depois fui-me habituando até ao ponto de começar a gostar de ir ao supermercado.
A outra grande mudança foi quando fiquei sem trabalho e vi-me obrigada a trabalhar na área comercial. Era uma área nova para mim e muito desafiante, uma vez que eu não estava nada à vontade para falar com pessoas desconhecidas. A verdade é que ultrapassei todos os meus receios e me superei e surpreendi a mim mesma. Afinal até tenho jeito para falar com as pessoas e descobri que adoro conhecer pessoas novas. Esta foi uma grande revelação para mim, e se eu consegui superar esta parte do problema, também conseguirei superar as outras.
A minha última descoberta
Embora tenha ultrapassado alguns obstáculos, ainda sinto cá dentro algum desconforto. Estou realmente muito melhor e sei que evoluí bastante, mas ainda há restos dessa sensação que se revelam em algumas situações.
Seria de esperar que estando neste momento sem trabalho e a morar perto da praia eu estivesse com um bronze de meter inveja. Pois é, mas estou branca que nem cal! E porquê? Porque ir à praia sozinha é impensável, ou melhor, quase impensável.
Este Verão ganhei coragem e fui à praia sozinha por duas vezes. Podem pensar que duas vezes não é nada, mas a verdade é que é mesmo muito, pelo menos para mim. Gosto muito de ir à praia, e devo dizer que me soube muito bem estar deitada a apanhar sol e ter tempo para estar comigo.
Curiosamente, descobri que não tive problemas em estar sozinha. Onde tive mais dificuldade foi na passagem da decisão à acção. Fiz imensos preparativos (água, música, livro, bolachas, etc), até parecia que ia viajar. Mas o mais difícil foi sair de casa e ir. Depois disso, foi relaxamento total e adorei. Pensei sinceramente que não teria problemas em fazer isto de novo, mas a verdade é que ainda tenho uma inércia muito grande que quero perder. De qualquer forma foi um passo importante que dei e consegui.
O meu desafio
Existem muitas outras coisas que gostava de fazer e que AINDA não consigo sozinha: caminhar na praia, fazer passeios a pé, viajar, falar com pessoas estranhas na rua, ir à biblioteca ler um livro, passar um tempo numa esplanada e muitas outras coisas que ainda nem pensei.
Quero mudar esta situação de uma vez por todas. Não posso continuar a deixar de fazer coisas que gosto por causa de um sentimento injustificado.
Por isso escrevi aqui este desabafo, esta confissão. E como quero muito resolver isto, vou lançar um desafio a mim própria e quero que todos os que lerem isto sejam minhas testemunhas. Todas as semanas vou comprometer-me a escolher um lugar e vou publicar um post aqui no blog com imagens desse lugar. Vou também partilhar o que senti ou como me fez sentir essa experiência e o que me trouxe de novo ou de bom. Será que resulta? Espero que sim.
Olá Susana!
Para quem te conhece minimamente, esta confissão parece um bocadinho sem sentido, mas a verdade é que o ser humano tem várias formas de contornar os seus obstáculos e sobretudo disfarça-los muito bem.
Em relação ao que sentes, acho que todos acabamos por passar por isso…
Eu também tenho coisas que não consigo fazer sozinha, por exemplo:
– Ir a um festival de Verão (uma vez que vou a inúmeros concertos, teatros, exposições, cinema sozinha, é estranho que assim seja!)
– Ir jantar ou almoçar num restaurante (acabo sempre a comer um snack num jardim)
– Viajar ou passar férias num sitio desconhecido
– Entrar numa loja que eu acho que é cara
De resto, há coisas que me custam mais fazer sozinha que outras, mas acabo sempre por fazê-las.
Mas o que realmente importa é o peso que isso tem na nossa vida e a mim, na verdade, acho que não me aflige muito… tirando o facto de não ter visto Radiohead este ano 😀
Olá Xana,
Antes de mais, obrigada pelo teu comentário.
Realmente o que me aflige mais é que deixo de fazer algumas coisas que gosto porque não tenho com quem as fazer na altura. Acho que não devia ser assim. Muitas vezes atribuo à preguiça o facto de ficar em casa em vez de ir à praia por exemplo, mas a verdade é que não é só isso e sei que ia gostar muito mais de ir à praia.
Na verdade o que me incomoda é pensar que gastei um dia em que podia ter feito algo bom para mim ou para outra pessoa e em vez disso não fiz nada. E não fazer nada é realmente o que me incomoda. (agora que te respondi é que me apercebi disto, OBRIGADA.)