O Que Aprendi Num Dia De Meditação

O que aprendi num dia de meditação na Tailândia

Uma das coisas que me suscitou mais curiosidade durante a minha curta estadia na Tailândia, foi a vida dos monges e a meditação. Tinha feito uma pequena pesquisa acerca dos retiros de meditação, mas todos eles exigiam um tempo mínimo de pelo menos 5 dias de participação e eu não me sentia preparada para isso. Uma vez que lá surgiu a oportunidade de fazer um curso de um dia de meditação, claro que agarrei a oportunidade.

Como surgiu a oportunidade

Como disse já tinha feito alguma pesquisa em casa e não tinha encontrado nada do meu agrado. Entretanto, já em Chiang Mai, conheci várias pessoas que também se interessavam pelo tema e que chegaram a viver a experiência do retiro.

Conheci uma rapariga que dormia no mesmo quarto que eu e que estava constipada. Na Tailândia é muito fácil apanhar-se uma constipação pois está muito calor e existem muitos sítios com o ar condicionado no máximo. Enquanto lá estive, constipei-me duas vezes.

Esta moça ficou doente no retiro e ao quinto dia (o total eram 10 dias) teve que desistir pois começava a incomodar as outras pessoas com a tosse e com os espirros. Contou-me que passava grande parte do dia a meditar e que não podia falar com ninguém. Disse-me que foi muito duro porque tinha que estar imóvel muito tempo. Ela já viajava há vários meses e nunca se tinha sentido tão sozinha, no entanto, dizia que se tivesse oportunidade tentaria de novo.

Uns dias mais tarde, uma outra rapariga alemã comentou que se tinha inscrito num curso de um dia da Universidade Budista. Eu e mais um holandês ficámos interessados em saber mais e perguntámos se ainda íamos a tempo de nos inscrever. E foi assim que a oportunidade surgiu.

Primeiras impressões

No dia seguinte, eu e o holandês fomos directos para o templo Wat Suan Dok onde nos encontrámos com um francês que já tínhamos conhecido e que aproveitou para se inscrever também. Lamentavelmente a rapariga alemã que nos apresentou o curso deixou-se dormir e não chegou a realizar a experiência.

Lá fomos os três fazer a inscrição formal, onde já estavam vários estrangeiros a preencher um pequeno questionário. Depois entrámos numa sala onde o monge que nos ia acompanhar se apresentou.

Devíamos ser cerca de 30 pessoas e todos se apresentaram dizendo o nome e o país de onde vinham. O monge explicou-nos que tinha proposto aos outros monges fazer este curso pois percebeu que havia muitos turistas que tinham interesse em experimentar a meditação mas que não tinham tempo disponível para o fazer durante a sua viagem. Para além disso, via no curso uma oportunidade de melhorar o inglês dele, e também de divulgar o Budismo e a Meditação.

Aula teórica com powerpoint

Depois de se ter apresentado, o monge revelou-nos que primeiro íamos ter uma aula teórica onde ele ia dar-nos algumas noções sobre o Budismo e sobre a Meditação e que depois disso iríamos passar para outra sala onde se ia meditar.

Não estava à espera de uma apresentação em Powerpoint, mas isso só veio provar que os monges são pessoas que se adaptam às novas tecnologias e que se preocupam com a informação e divulgação da sua filosofia de vida.

Estes foram alguns conceitos que nos foram apresentados:

  • o Budismo não é uma religião, é uma filosofia de vida;
  • “what goes around, comes around”. Tudo que fazemos, tem uma consequência;
  • se não experimentarmos algo, então nunca saberemos como seria se o tivéssemos experimentado;
  • é importante acreditarmos em nós próprios;
  • presta-se respeito a Buddha da mesma forma que se cumprimenta alguém na rua;
  • importância do equilíbrio na vida (corpo e mente);
  • as 4 nobres verdades: o sofrimento (físico e mental), a causa do sofrimento (causa / efeito), o fim do sofrimento (tudo tem um fim, até mesmo o sofrimento) e o caminho para acabar com o sofrimento (manter a vida equilibrada);
  • o caminho do meio constituído por oito práticas: a compreensão correcta, o pensamento correcto, o discurso correcto, a acção correcta, o meio de vida correcto, o esforço correcto, a atenção correcta e a concentração correcta.
  • fazer o bem;
  • desenvolvimento da meditação: a mente está sempre a controlar-nos mas com a meditação somos nós a controlar a mente;
  • 2 tipos de meditação: Samatha (calma e concentração) e Vipassana (ver as coisas como realmente são);
  • as 4 fundações da “atenção plena” (mindfulness): mindfulness do corpo (contemplar as acções e sensações do corpo – meditação sentada ou a andar), mindfulness das emoções (os meus sentimentos não me definem; são só emoções), mindfulness dos pensamentos (observar o estado geral da mente) e mindfulness dos objectos mentais (todas as emoções estão incluídas nesta fundação).

Um dia de meditação

Depois desta aula que foi extremamente didáctica, fomos praticar a meditação numa outra sala. Experimentámos várias formas de meditação, mas estas foram as mais praticadas:

Meditação sentada (Sitting Meditation)

Primeiro o monge explicou-nos que existem várias formas de nos sentarmos e que podíamos optar por qualquer uma delas. Eu optei pela mais simples pois não tenho experiência nisto e estar de pernas cruzadas em posições desconfortáveis não ia ajudar a minha concentração.

Passando à prática, fechei os olhos e comecei a concentrar-me apenas na minha respiração. A respiração deveria ser normal, pelo que apenas tinha que a “observar”. Este tipo de meditação já não era novo para mim, pois já o tinha praticado algumas vezes em casa, no entanto, nunca o tinha feito em grupo e durante tanto tempo.

Foram 20 minutos (ou 25, não me recordo bem) sem me poder mexer. Confesso que no início estava bastante concentrada, mas depois começou-me a doer as pernas e os pés ficaram dormentes e a partir daí eu só conseguia pensar na dor e esquecia-me do foco na respiração. Foi-me explicado que um dos objectivos é não ligar à dor, mas é muito difícil e penso que só se consiga com alguma prática (que eu não tinha).

Aqui percebi que talvez o Yoga ajude, uma vez que pode preparar o corpo para estas posições sem dor. Ainda não tinha pensado nisso até então, pois o máximo de meditação sentada que fiz foram 10 minutos que não causam tanto desconforto ao corpo.

Repetimos esta meditação quase no final do dia, mas confesso que depois de tantas horas já estava um pouco aborrecida e fiz batota. Uma vez que tinha sido tão difícil da primeira vez e o resultado foram dores nos pés e pernas, evitei estar parada muito tempo e de vez em quando mexia-me. Acho que foi pior, porque não aproveitei a experiência e estava tão inquieta que o tempo demorou muito mais a passar.

Meditação a andar (Walking Meditation)

Já tinha ouvido falar neste tipo de meditação, mas nunca tinha experimentado. Foi muito estranho, apesar de ser bastante confortável em comparação com a meditação sentada.

Basicamente consiste na concentração dos movimentos que fazemos quando andamos. Por palavras é muito difícil explicar a experiência, por isso escolhi um vídeo no Youtube que explica e exemplifica este conceito.

Esta meditação foi feita numa sala, em grupo e cantávamos as indicações à medida que andávamos. Vestidos de branco, a andar devagar e a cantar “right goes there” e “left goes there”, sem dúvida que parecíamos uma seita. Durante todo o exercício, o que me deixou mais desconfortável foi o cantar. Estava realmente muito fora da minha zona de conforto, mas mantive-me fiel ao exercício pois, se não experimentasse, não saberia como me iria sentir.

Fizemos este tipo de meditação duas vezes (antes e depois do almoço). À medida que ia praticando, ia-se tornando mais confortável e depois de o fazer sentia realmente a minha mente limpa.

Meditação Deitada (Lying Meditation)

Esta foi verdadeiramente a mais simples. Consiste em estarmos deitados de barriga para cima e relaxados. Depois focamos a nossa concentração na respiração.

Esta meditação foi a última que fizemos e claro que quase todos acabámos por adormecer. Houve até quem ressonasse!

Depois desta prática, fez-se um intervalo para beber uma espécie de chá e uns biscoitos que o monge tinha escolhido para nos oferecer.

A conversa com o monge

Existem muitos templos na Tailândia, especialmente em Chiang Mai, que oferecem aos turistas o que eles chamam de “Monk Chat” (conversas com monges). O turista pode conversar abertamente com os monges e fazer todo o tipo de perguntas e os monges praticam o inglês. Assim todos ganham!

Este curso de um dia de meditação tem incluído no final uma conversa com o monge. Sentámo-nos à volta dele e fizemos várias perguntas sobre a vida de monge e o Budismo. Ele respondeu sempre com um sorriso e sem julgamentos, e muitas vezes fazia piadas.

Percebi essencialmente que os monges são pessoas simples e que muitos deles escolheram este estilo de vida para terem oportunidade de estudar. Não são obrigados a ser monges a vida toda e sentem-se felizes com o que têm.

O que aprendi com esta experiência

Essencialmente percebi que existem várias formas de meditar. Foi muito bom ter experimentado outras técnicas de meditação e fazê-lo em grupo. Para mim, a vantagem de ter praticado em grupo foi o facto de poder partilhar a experiência mais tarde com as pessoas que conheci, e também de perceber que as minhas dificuldades eram comuns a vários colegas.

Vou continuar a explorar esta actividade pois reconheço que me traz mais clareza e tranquilidade na tomada de decisões. A sensação que tenho é que, depois de meditar, a minha mente fica limpa e deixa-me ver as coisas de forma mais simples.

E tu? Que experiência tens com a meditação? Já experimentaste? Tens algum conselho que me possas dar? Partilha aqui as tuas sugestões.

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