Escalada – Uma Questão De Mindset

Escalada - uma questão de mindset

Quero partilhar convosco a minha última experiência: o “Bouldering” (escalada em parede interior). Tem-me feito rir, tem-me feito chorar, tem-me feito crescer e sei que irá contribuir para o meu desenvolvimento pessoal.

Como descobri o Bouldering (escalada)?

Depois do Verão andei à procura de uma actividade física que fosse desafiante, uma vez que não sou fã de ginásios e desmotivo-me facilmente. Como já tinha experimentado fazer escalada na rocha e gostava de repetir, fui experimentar um ginásio de escalada interior que encontrei no facebook. Fui com uma amiga e não fazia ideia do que era o Bouldering.

Estava à espera de encontrar uma parede de escalada grande com pessoas penduradas por cordas mas não foi nada disso que encontrámos. O ginásio tem várias paredes com cerca de 4,5 metros e tem um colchão enorme pois esta modalidade não usa cordas. Ficámos um bocado com medo, mas fomos experimentar.

Foi muito divertido: aprendemos a cair, fizemos alguns desafios marcados na parede e ficámos super cansadas (mas contentes). Percebi que esta actividade tinha potencial para se manter e passado uns dias fomos ter uma aula para perceber melhor esta modalidade. A partir dessa aula comecei a frequentar o ginásio sozinha cerca de uma a duas vezes por semana.

Uma questão de Mindset

Quando comecei a ir a este ginásio de escalada, mesmo sendo um desafio, pensei que a minha motivação não iria durar muito tempo. Apesar de achar piada subir paredes, provavelmente quando conseguisse escalar umas quantas vezes iria perder a graça. Mas a verdade é que esta actividade surpreendeu-me.

Comecei pelos desafios mais fáceis e sempre que tentava outro desafio quase não saía com os pés do chão. Não sabia como fazê-lo. Agarrava nas presas e não percebia como é que era possível alcançar a seguinte pois pareciam-me muito longe.

Perguntei que desafio seria mais indicado para mim que estava a começar e indicaram-me a parede com as presas cor-de-laranja. E lá fui eu tentar. Chegava sempre a meio e depois olhava para cima e achava impossível alcançar a presa seguinte.

Comecei a observar os outros escaladores e todos conseguiam fazer aquele desafio facilmente. E eu perguntava-me: “Mas como é que eles conseguem fazer?”. Percebia os movimentos que faziam, tentava fazer igual e não conseguia lá chegar. Foi então que ouvi o que estava a dizer a mim própria. Dizia: “Eu não consigo”, “É impossível”, “Tenho medo de cair”, etc.

Assim que percebi o que estava a acontecer na minha cabeça, comecei a contrariar os meus pensamentos: “Consigo tudo aquilo que eu quiser”, “Se os outros fazem, não é impossível, “Não vou cair se acreditar que vou conseguir e fizer como os outros fazem”. E num último esforço de fé consegui alcançar a última presa.

Fiquei tão contente! Consegui superar aquele desafio em termos físicos e mentais. E a partir desse momento percebi que o “Bouldering” me iria fazer crescer, tirando-me da minha zona de conforto e desafiando-me a cada passo.

Arco e Flecha

Depois de ter feito a parede com as presas cor-de-laranja, perguntei qual seria indicado para fazer de seguida. Todos os desafios têm um nome e o meu próximo tinha presas negras e chamava-se “Arco e Flecha”.

Mais uma vez me pareceu “impossível”. O responsável pelo ginásio (que tem uma paciência gigante) mostrou-me como fazer e lá tentei de novo. Consegui chegar até à penúltima presa que estava a cerca de 4,5m de altura. Parecia-me tão longe de alcançar. E ele mostrava de novo e era tão fácil.

Enchi-me de coragem e tentei agarrar a última presa. Toquei-lhe mas não consegui segurar-me a ela e fiquei meio pendurada nas outras. Ufa! Ia caindo! Com isto percebi que tinha que fazer mais força na perna para subir na parede e alcançar a presa mais alta. Precisava de mais confiança e fui para casa a pensar no assunto.

O dia do desafio final

Na semana seguinte já tinha revisto os movimentos na minha cabeça várias vezes e acordei a pensar: “É hoje que consigo”. O meu mindset era positivo e estava confiante que iria chegar ao ginásio e subir a parede.

Cheguei ao ginásio, comprei os meus primeiros pés-de-gato (sapatos próprios para escalar) e lá fui eu fazer o aquecimento. Subi as paredes mais fáceis, depois a das presas laranja (que cada vez me parece mais simples) e lá fui eu às presas pretas.

A primeira vez que tentei subir cheguei à penúltima presa, olhei para a última e o meu pensamento foi: “Não me lembrava que ela estava tão longe” e desci rapidamente a parede. Pensei: “Afinal já não sei se consigo”. Mas não desisti. Na minha cabeça não quero que haja espaço para “não consigos”.

Depois estive a falar um pouco com o responsável pelo ginásio e ele explicou-me, a mim e a mais uns moços, um pouco da técnica para subir. Os moços eram altos e faziam aquilo nas calmas. Esticavam o braço e tocavam na presa. Eu, por muito que me esticasse, ainda me faltava muito para alcançá-la.

Fiz várias tentativas, ganhei coragem, lancei-me e agarrei a presa. Uau! Que sensação! Consegui! Fiquei super contente! Era tudo uma questão de mindset.

A grande queda

Depois de ter conseguido vencer o medo, voltei à carga. Se consegui uma vez, vou conseguir mais vezes. E lá fui eu. E não consegui. Achei que não tinha força suficiente e voltei para baixo.

Descansei mais 5 minutos e lá fui eu confiante que o desafio estava ultrapassado. Cheguei lá acima, olhei para a presa e lancei-me de novo. Toquei na presa mas não a consegui agarrar, perdi o equilíbrio e quando dei por mim, estava a cair da parede. Ouvi as minhas vértebras a estalar e, deitada de costas no colchão, pensei que tinha partido todos os ossos da minha coluna. Fiquei imóvel (acho que um pouco em choque).

O responsável do ginásio veio logo ter comigo e acalmou-me fazendo uma série de perguntas sobre o que estava a sentir. Não tinha dormências e rapidamente percebi que podia mover pernas e braços, mas tinha uma dor infernal nas costas. Ele disse-me que era normal estar assustada, pois nunca tinha caído assim e que provavelmente iria acontecer mais vezes.

Fiquei um pouco a conversar com ele sobre a queda e percebi que era capaz de ficar bem. Fartei-me de chorar com o nervoso, mas convicta de que ia superar mais este desafio.

Os dias seguintes

Depois de ter saído do ginásio em lágrimas, fui para casa descansar. No dia seguinte acordei cheia de dores. Parecia que tinha levado porrada no corpo todo.

Doíam-me as costas por causa das vértebras terem estalado. Tinha uma nódoa negra debaixo do queixo e no peito, pois com o impacto a minha cabeça bateu no peito. Os músculos do pescoço e do abdómen, de tanto me ter contraído na queda, deram sinal de vida e pareciam ter acabado de sair do ginásio.

Fui trabalhar e decidi partilhar este meu episódio com o máximo de pessoas possível. Porquê? Primeiro para desabafar, depois porque sei que quanto mais falar nisso de uma forma positiva, mais hipóteses tenho de superar o medo de subir de novo a parede.

A verdade é que apesar de ter sido uma queda violenta, e que não quero repetir, acho que devo superar este novo medo. Este será o verdadeira desafio.

E agora?

Sei que provavelmente vou cair mais vezes e por isso quero aprimorar a minha técnica e quero perceber de que forma posso cair melhor. Para a próxima semana vou voltar ao ginásio e não sei como vou reagir, mas vou com calma e segurança.

Sei que esta experiência me vai fazer crescer mais um pouco e me vai trazer mais confiança em tudo aquilo que faço. Não espero que seja fácil, mas o meu mindset diz que é possível e que vou conseguir!

E tu? Quando é que foi a última vez que te desafiaste? O que fazes para sair da tua zona de conforto?

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